sábado, 19 de setembro de 2020

SÓ PORQUE ZÉ DISGUEIA PEDIU PARA VIREM OS PF

 

Uma da tarde em Fisgamarfanhada, um lugarejo não muito distante de não sei de onde.

Plena quinta-feira, o restaurante do Zé Disgueia recebia bom bocado de pessoas, para o tradicional almoço caseiro: arroz, feijão, batata cozida com carne acém, salada de alface e cebola fatiada, farofa “si quizé pô no pratu”, molho de pimenta “vremêia”.

A talagada da marvada era “di brinde” mas a pandemia encareceu as coisas e vale, em Fisgamarfanhada, “dois mirréis de dinheiro bão”.

Pré-campanha faz os prefeitos, secretários, assessores e carrapatos saírem do quadradinho do conforto para bater pernas pela cidade. Naquele dia, essa tropa toda cismou de almoçar no Restaurante do Zé Disgueia, no mercado da cidade.

Zé Disgueia, um velhote forte, dos seus 70 anos, buscando fazer média com as “toridades”, esticou a fala quando o pessoal já havia “talagado a marvada”.

- Num é qui conteceu dinovo? O pessoar saiu da casca nu tempu certinhu! Trêis animeiu!

- Boa tarde, Zé!, contraponteou o prefeito.

- Isso mereci festejá! Armoço pru conta da casa.

- Não Zé, a conta é minha...

- Jeininhum! Vai qui tem uns contra venu isso! Vão dizê qui é dinheru da prefetura

- É mesmo. Melhor aceitar o presente, né pessoal?

Um “é” coletivo estimulou todo mundo.

- Pessoar! Já pode trazer os PF pro prefeito e o povo dele...

Nessa hora todos se levantaram e se puseram em desabalada carreira, deixando de almoçar.

- Ué! Será qui ninguém gosta di PF, mermo di graça...

- Zé, é só falar PF pra assustar quem anda de banda nas coisas de usar o dinheiro público.

Quem disse isso foi Haroldinho, um advogado aposentado e freguês do Prato Feito mais saboroso da cidade.

Fisgamarfanhada ficou sabendo precisar de uma visita da PF à prefeitura e outros endereços...